O cinema francês é recheado de grandes obras cinematográficas. Algumas delas querem retratar memórias que foram sentidas na pele. É o caso do longa Jovens Amantes, um dos poucos filmes dirigidos por uma mulher a ser selecionado para competir no Festival de Cannes. Assistimos com exclusividade a obra semi-autobiográfica da diretora Valeria Bruni Tedeschi que chega aos cinemas brasileiros no dia 3 de julho. Confira a seguir nossas impressões.

A história
Acompanhamos um seleto grupo de jovens, que em 1980, foram escolhidos a dedo para estudar na prestigiada escola de teatro Les Amandiers, nos arredores de Paris, sob a direção do lendário Patrice Chéreau.
Entre ensaios, descobertas e inquietações, esses alunos irão se agrupar para viver intensamente suas primeiras experiências na arte e na vida – os amores, as dúvidas, os excessos e os sonhos que moldam a juventude.

Baseado na própria vivência da diretora Valeria Bruni Tedeschi e de seus colegas da época, o filme revela sob uma ótica crua o amadurecimento de uma geração de artistas em formação, à medida que aprendem a transformar suas dores e desejos em expressão cênica.
Por que você quer atuar?
A força motriz do filme está em apostar as fichas em um elenco talentoso. A atuação principal de Nadia Tereszkiewicz, no papel principal, é sensorial e cheia de vida. A jovem tem a capacidade de dominar o espaço e expurgar de dentro da protagonista Stella todos os sentimentos mais passionais que surgem em cena.
O seu parceiro de tela, Sofiane Bennacer, interpreta o Étienne, um jovem perdido na vida e dependente químico. O casal tem uma química intensa e conturbada. Juntos, os atores se entregam a essa relação turbulenta, guiados pelas camadas emocionais dos personagens.

Além do casal principal, Clara Bretheau, que dá vida a Adèle, amiga de Stella, é efervescente e carismática. Outros destaques ficam para o trabalho contido e preciso de Micha Lescot, e para o veterano Louis Garrel, que interpreta o renomado diretor Patrice Chéreau com bastante firmeza.
A arte dentro de sua época
A fotografia do filme é um acerto indiscutível. O diretor de fotografia Julien Poupard foi caloroso em trazer para o elenco jovem uma ambientação cheia de cores, texturas e pulsações ao reviver aqueles anos 80. A câmera passeia com liberdade, quase como se também estivesse descobrindo o mundo ao lado daqueles personagens.

A trilha sonora entra como um segundo fôlego para essa ambientação. Bach, Liszt e Vivaldi se misturam ao grito rouco de Janis Joplin — uma mistura improvável que funciona como uma trilha de formação, de descoberta e de liberdade.
A diretora mergulha em suas memórias, costurando junto da sua equipe retrato afetivo e detalhado da juventude. Nesse aspecto, é de se reconhecer um trabalho sensível e recompensador para o espectador.
E quando as cortinas se fecham…
Jovens Amantes é um longa com propostas interessantes, mas tropeça em muitos pontos. É um filme longo, que se estende além do necessário, e que se perde na própria ambição. Ele até toca em temas importantes, como os abusos de poder em ambientes artísticos e os relacionamentos disfuncionais, mas não se dá ao luxo de lidar com eles. A dinâmica entre Stella e Étienne, por exemplo, tenta se inspirar no clássico Pânico em Needle Park de 1971, mas aqui soa desmedida e pouco envolvente, mesmo com o empenho dos atores.

Enquanto isso, personagens que poderiam trazer mais força ao filme acabam subaproveitados. A amiga Adèle, o jovem Franck lidando com a paternidade, e até o contexto assustador da epidemia de AIDS são deixados de lado, quase em um terceiro plano. Ele quer mostrar que os anos 80 foram duros e sem freios, mas acaba não dizendo muita coisa sobre isso.
Fonte: www.pippoca.com
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