
Tem muita coisa em jogo

Pra manter a pose hétero, Benny inventa histórias sobre sua nova amiga Carmen, se força em situações desconfortáveis e até entra numa sociedade secreta só para garotos, tudo pra parecer alguém que ele simplesmente não é. Mas até quando ele vai conseguir sustentar toda essa farsa?
Até que é atemporal

O roteiro, assim como o protagonista, parece ir se encontrando ao longo dos episódios. Apesar disso, atravessamos cenas forçadas, diálogos constrangedores e momentos que só existem pra mover a trama. Porém, lá pro final, o tom fica mais irônico, o ritmo melhora e a série finalmente parece saber o que está dizendo.
Do TikTok para Hollywood
O elenco conseguiu criar uma sinergia interessante ao longo da temporada. Destaque para Wally Baram, que em seu primeiro papel como atriz consegue incorporar toda a ingenuidade e confusão de Carmen; a hilária Holmes (também vista em Hacks) interpretando a divertida Hailee; e para Adam DiMarco, totalmente à vontade interpretando o irritante, mas até que charmoso. Já o astro do show, Benito Skinner, aproveitou toda a sua experiência como criador de conteúdo no TikTok para refinar sua veia cômica, principalmente na comédia física. Na sua estreia na TV, ele brilha e exalta carisma.

Entre as participações especiais, a série ainda nos presenteia com Megan Fox como uma espécie de mentora espiritual, a Charli XCX fazendo uma versão popstar (e mais debochada) de si mesma, e uma cena hilária que os amigos Bowen Yang e Matt Rogers — que parece saída diretamente de uma esquete do SNL — exageram até os limites nos estereótipos de um relacionamento não monogâmico, que parece estar funcionando, até certo ponto.
Esforçado demais e até meio brat
A trilha sonora da série, comandada pela própria Charli XCX, mistura sucessos pessoais da cantora com hits icônicos do começo da década passada, como “Super Bass”, da Nicki Minaj, e “Lucky”, da Britney Spears. É uma seleção que acerta na nostalgia e ambienta perfeitamente esse tempo-espaço meio indefinido da série. Um dos momentos mais fofos é embalado por “Claws”, da própria Charli, que toca em uma cena de reconciliação entre Benny e Carmen.
Agora, um pequeno desvio — mas que vai fazer sentido. Vamos de crítica musical dentro da crítica da série. Charli atualmente está encerrando sua era brat, marcada por um visual propositalmente feio (um verde limão + fonte horrorosa) que, na verdade, é uma crítica bem articulada ao consumismo e à estética plastificada do pop. Ironicamente, brat virou sua era mais bem-sucedida em números: a artista indie agora reina nos charts.

Ao escrever esse texto, veja que a capa do álbum já mudou: o título foi rabiscado, e o verde chamativo começa a ceder espaço para um marrom enferrujado. É a artista dizendo que a tendência foi tão explorada que começou a apodrecer. É proposital, irônico e autoconsciente. Assim é também com Overcompensating, que sabe que poderia parecer datada em tempos de Heartstopper e Sex Education, mas escolhe contar uma história que precisava ser contada. Afinal, se esconder no armário pode parecer coisa do passado, mas ainda é a realidade de muita gente. E Charli, com sua trilha, está ali para lembrar que o pop, assim como a identidade, também é um espaço de contradição.
Considerações Finais
Overcompensating exige que você deixe o seu eu crítico de lado um pouco para um bom aproveitamento. Erros de continuidade, um roteiro constrangedor e as atuações meio bobas estão ali — não só nos primeiros episódios, mas ao longo de toda essa primeira temporada. Com um pouco de paciência e boa vontade, essa espécie de American Pie gay se torna mais palatável, revelando suas intenções por trás do exagero.

Fonte: www.pippoca.com
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